A Polícia (mais ou menos) Nacional, mais concretamente da esquadra do “Bone Chapéu”, Zona da Fubu, em Luanda, está a ser acusada de ter escondido o jovem Mariano Ribeiro, que na madrugada do dia 21 de Julho foi violentamente espancado, por desconhecidos.
Encontrado por um cidadão no seu quintal, este levou-o ao hospital geral de Luanda, pois estava com os membros inferiores partidos e os olhos semi-arrancados.
De acordo com a Polícia, que reconheceu o jovem gravemente ferido, tratava-se de um delinquente altamente perigoso. E com esse carimbo, a Polícia impediu que Mariano Ribeiro ali fosse tratado, transferindo-o para o Maria Pia. Aqui chegado, foi atirado para o chão e quando os familiares chegaram viram uma cena macabra.
Sem poder abrir os olhos, todo quebrado e inconsciente, Mariano Ribeiro foi usado pela investigação do SIC que – para “provar” o seu alto grau de perigosidade – fez um vídeo obrigando o jovem a confessar que tinha assaltado um camião com uma arma de fogo e que fora apanhado pelo camionista.
Estranho é o facto de alguém apanhado e desarmado ter sido violentado de forma selvagem, provavelmente com blocos e paus, e o dito motorista nem sequer ter aparecido.
E, mais grave, segundo o Folha 8 apurou, no final a família assistiu à colocação do jovem, doente e gravemente ferido, no porta bagagens de um turismo dos homens do SIC (Serviços de Investigação Criminal). Desde esse dia que a família não sabe do seu paradeiro, pois a Polícia nega-se a dar pormenores, limitando-se a informar a família, segundo uma irmã da vitima, de que “se trata de um delinquente altamente perigoso, que já estávamos à procura dele há muito tempo, cerca de 10 anos, para o matar”.
Ora, mesmo tratando-se de um delinquente perigoso (segundo a versão do SIC) não deixa de ser – presumimos – um ser humano, pelo que a Polícia deveria antes de tudo dar ou permitir assistência médica, mesmo mantendo-o sob vigilância ou detenção policial, e quando estivesse recuperado e autorizado pelo corpo clinico, então ser interrogado.
Registe-se que uma possível vítima de Mariano Ribeiro, garante não ter sido o jovem a roubar a sua casa, como diz o SIC, pois encontrou vestígios de um crime praticado fora e depois arrastado para o local onde foi encontrado.
“Eu acho impossível ser esse moço que roubou na minha casa. Eles apanharam-no às três da manhã e depois trouxeram-no para aqui, mas bem partido e sem os olhos. Levei-o ao hospital, mas ainda tive de levar os polícias que não tinham carro e só diziam que esse é bandido e assaltou um camião”, conta a testemunha.
Até este momento, o jovem continua desaparecido e a mãe angustiada, não sabe o que fazer, pois a Polícia está – tanto quanto admitem os familiares – a escondê-lo num porta bagagens, apesar do seu estado crítico.
Contactada a Polícia de “Bone Chapéu” essa limita-se a dizer estar o mesmo com o SIC, por se tratar de um delinquente altamente perigoso.
Estranha-se esse comportamento da Polícia Nacional de denegar assistência médica a quem considera delinquente perigoso, por ser do povo e pobre, mas mantém à solta os grandes delinquentes que delapidam os cofres do Estado e mantém a maioria dos cidadãos e o país nessa crise.
Este comportamento da Polícia contraria, aliás, as instruções e a metodologia operacional que o Comandante Provincial da Polícia de Luanda, José Sita, tenta implantar na corporação. Admite-se, na circunstância, que esteja a ser enganado quanto aos reais motivos deste tipo de actuação da polícia.
Se for verdade, isto é falta de ética profissional e de humanidade, porque por mais perigoso que seja não dá o direito das entidades da ordem pública tentarem pôr termo a vida deste jovem.